quinta-feira, abril 12, 2012

Visão asiática do "problema" Europeu

Os Homens sem Qualidade, por Chan Akya - AsiaTimes

 
Para compreender os actuais eventos na Europa e na forma como a eurozona está a lidar com a crise da divida, é melhor familiarizarmo-nos com o épico e não terminado romance The Man Without Qualities (O Homem Sem Qualidades) de Robert Musil (1880-1942). Visto sobre o prisma da existência ficcional do protagonista e matemático Ulrich ou sobre o prisma de comentário metafisico sobre a capacidade do protagonista se adaptar a uma vida sem significado, o romance navega o leitor por múltiplas realidades e pára num fim inconclusivo, um fim que procura ser continuado, tal como estava.

Houve um período na história em que a palavra “cimeira” significava efectivamente algo. Por exemplo quando Winston Churchill, Franklin D Rossevelt e Joseph Stalin tinham uma cimeira, a palavra era bem merecida pois cada um daqueles homens poderia a qualquer momento atirar milhares de cidadãos para a guerra. Mesmo quando os que se encontravam no campo oposto, i.e. Adolf Hitler e Benito Mussolini, se encontravam, poderia ser chamada uma cimeira porque ali estavam dois homens verdadeiramente horríveis que tinham comandado milhões para a morte.


Em contraste, a melhor forma de descrever o grupo actual de políticos Europeus é “homens sem qualidades”, pessoas que nem têm liderança nem capacidades administrativas. A figura clássica de Don Martin (caricaturista da revista MAD, http://donmartinwebsite.com/) é mais apropriada, não tanto como caricatura mas a realidade mascarada como figura caricaturada. Quando esta colheita de políticos – a alemã Angela Merkel, o francês Nicolas Sarkosy, o italiano Silvio Berlusconi e outros – acordam em encontrar-se, é um erro designar isso uma cimeira. Uma designação mais apropriada seria “uma Base de Operações”; pensem nisso,estes tipos encontram-se, e então começam as negociações sem ter a habilidade para concordar no que quer que seja porque os seus governos em casa simplesmente nunca apoiam os mandatários para o fazer.
Imaginem quando Stalin e Roosevelt se encontraram com Churchill, o inglês simplesmente ouvia as propostas para o dia D e então prometia confirmar a participação britânica assim que regressasse a casa.

Material sobre a Base de Operações

Então o que objectivos alcançaram nesta base de operações dirigia por homens sem qualidade? Na minha opinião dizer “precisamente nada” seria ser simpático, enquanto “prestidigitação perigosa” seria uma resposta bem mais precisa.
De longe o maior problema é a evolução do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), onde a premissa foi de aumentar seu tamanho de 440 biliões de euros para mais de mil milhões de euros. Segundo parece isto foi conseguido, baseando-me nas notícias, no entanto se entrarmos em detalhes deixa de ser tão óbvio.
Os mecanismos do aumento do fundo são para suportar os “reforços de crédito” que vão cobrir a divida italiana e espanhola daqui para a frente. Em outras palavras, se o FEEF tem uma rate de, digamos, AAA, um investidor de títulos comprando a divida do governo italiano pode diminuir o impacto de qualquer baixa de rating porque existe uma instituição por detrás com uma rate de AAA que lhe pagaria em caso da Itália alguma vez entrar em bancarrota. Até aqui, tudo bem.
Mas pensem nisto sobre o prisma de incumprimento da Grécia – sobre a qual a base de operações da UE decidiu que a) só os credores privados perdem dinheiro, e b) o perdão de 50% de divida deve ser voluntário.
A ideia do b) era evitar desencadear um evento que provocasse credit default swaps (CDS) e portanto evitar que todos os protectores da venda (principalmente bancos europeus) tivessem que pagar o valor nominal aos compradores com protecção (principalmente fundos americanos). É assim que o termo voluntário foi utilizado, e na realidade, resultou na destruição do valor de transacções legítimas feitas por diversos investidores.
Para ficar mais claro, imagine que você foi um comprador de parte da divida Grega e decidiu, digamos em 2008, que o pais estava a dirigir-se na direcção errada e portanto decidiu comprar protecção para o CDS (seguro do investimento), seria lógico pensar que no último fim-de-semana a sua exposição é hedged, logo a perda de valor nos títulos seriam compensadas pelos pagamentos do CDS. Mas em vez disso, agora vai ter que lidar com uma perda de valor nos títulos, sem ganhar compensação alguma do CDS que comprou. Em outras palavras, você foi tramado, pois o seguro que fez do investimento não vale nada.
É precisamente neste ponto que a ideia de seguro ou reforço de crédito cai por terra. Porque é que haveriam os investidores que acabaram de ser queimados com os títulos gregos, voltar a confiar nas pessoas que os acabaram de tramar? O que é que impede que uma futura base de operações europeia decida uma restruturação voluntária dos títulos de divida italianos ou espanhóis, e nessa base nenhum pagamento sairia da FEEF pelas perdas sofridas?
Olá, está alguém em casa?
Por outro lado temos o contra-intuitivo programa de capitalização bancário. A ideia é que para fortalecer o sistema bancário europeu, seria necessário novo capital na ordem de 106 biliões de euros. Primeiro ninguém com o mínimo de cabeça acredita nesse número - quando os tipos que fazem os testes de stress nomeiam como melhor banco da região o Dexia, e umas semanas mais tarde ele quase se encontra em falência, temos um problema sério de credibilidade. Então quando dizemos que o “deficit” é de 106 biliões de euros, qualquer pessoa razoável vai assumir 500 biliões de euros, mais ou menos.
A questão que se segue é – como estão as perdas na divida soberana grega agora para ser tratada em vários bancos? Bancos franceses estão com problemas há várias semanas porque eles assumiram uma perda de 21% nos títulos gregos, mas agora vão ter que comer 50%. Muitos alegaram ter “hedged” por intermédio do CDS – que agora é inútil, por o perdão ser voluntário. Então, qual é realmente a perda à conta da Grécia, e como está distribuída essa perda pelos vários bancos?
A mãe de todas as questões é de onde vai ser obtido todo esse dinheiro e mais importante como? Existe muita conversa solta na base de operações dizendo que o sector privado deve apresentar soluções primeiro, e depois os estados interviriam se necessário. Entretanto, os bancos serão encorajados a não cortarem com as carteiras de negociação e empréstimo, numa tentativa de reduzir os choques externos… os quais não acontecerão – porque a base de operações europeia disse que sim.
Poiiiiis.

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